Economia circular, é para ontem!

Saiba mais sobre os impactos da economia linear que vivemos, e a importância da economia circular como ferramenta de transição para sustentabilidade

A ânsia por lucrar de forma indiscriminada não apenas causa impactos devastadores à natureza, mas também afeta de maneira avassaladora populações, como indígenas, ribeirinhos que têm suas terras invadidas para atividades de mineração e criação de gado. Tudo isso em prol de sustentar um padrão de consumo insustentável!

Ignoram-se as demarcações, as vidas que ali vivem para desmatar e produzir produtos de bens e consumo. Produtos que serão vendidos gerando um lucro exorbitante já que quase não há gastos com compra de terras e impostos.

Estamos testemunhando a destruição de nossas terras e ecossistemas para atender a interesses externos, sacrificando a saúde de nosso ambiente e a vida de nossas comunidades. A busca incessante por lucro e a lógica predatória do consumo têm gerado uma tragédia ambiental e social que não podemos ignorar.

Estamos testemunhando a décadas um modelo de produção de produtos de bens e consumo baseado em “extrair-produzir-descartar”, o que conhecemos muito bem como Economia Linear. E resumidamente, eles pegam todas as matérias-primas que podem da natureza, fabricam produtos com elas e, depois, jogamos tudo fora como lixo. Dói só de imaginar, não é?! Pois é!

Para se ter uma ideia do impacto, o Brasil é o 4° maior produtor de lixo do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cada brasileiro produziu em média 1,043 kg de lixo por dia em 2022, 381 kg no ano. No total foram geradas aproximadamente 82 milhões de toneladas nas residências. E em média, cerca de 94,5% dos resíduos municipais no Brasil são ainda destinados aos lixões, aterros ou incinerados. Aproximadamente apenas 4,5% dos resíduos são destinados a reciclagem, e 1% a processos de compostagem.

É urgente repensar nossos hábitos de consumo e apoiar uma economia que priorize o bem-estar das pessoas e do planeta. É urgente promover a valorização do que é local e sustentável, em vez de ceder à lógica de exportar o melhor de nossa produção. A transição para a Economia Circular é um chamado à ação para todas as esferas da sociedade, dos governos e indivíduos, com maior peso para as empresas!

Economia circular

A Economia Circular surge como uma resposta imperativa para reverter a política desenfreada de consumo que tem assolado o nosso planeta. Ela visa romper com o modelo tradicional de produção e consumo linear, onde os recursos são extraídos, utilizados e descartados, gerando enormes quantidades de resíduos e impactos negativos ao meio ambiente.

Em termos de conceito, a Economia Circular associa desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais, baseado em três princípios principais, impulsionados pelo design: (1) eliminar resíduos e poluição; (2) circular produtos e materiais ao máximo; e (3) regenerar a natureza.

Na Economia Circular, a premissa é que produtos e materiais não sejam descartados, mas sim mantidos em circulação, otimizando o uso de recursos naturais empregados em sua fabricação e permitindo a regeneração dos sistemas naturais. Na economia circular, pensa-se nas mudanças climáticas e outros desafios globais, pensa-se nas comunidades locais, em preservar a biodiversidade, em evitar o desperdício, a poluição, desvinculando a atividade econômica do consumo de recursos finitos.

Trata-se de uma mudança sistêmica em que o próprio conceito de “lixo” é eliminado. Novos modelos de negócios, fábricas, processos e produtos são criados de forma inteligente desde o início, com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis, renováveis, sem possibilidades de desperdício e contaminação, de modo que o gerenciamento de resíduos deixe de ser uma preocupação.

A transição para uma economia circular

A economia circular emerge como ferramenta para lidarmos coletivamente com o melhor uso de recursos naturais, as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, as necessidades sociais que persistem nos dias atuais. Isso nos possibilita prosperar com aumento das taxas de emprego, resiliência, fortalecemos as economias locais, enquanto mitigamos as emissões de gases de efeito estufa, reduzimos a geração de resíduos e combatemos a poluição.

No entanto, a transição para uma economia circular representa uma transformação sistêmica que exige esforços coletivos substanciais. Para isto, uma nova cultura de negócios se torna imperativa, caracterizada por princípios, atitudes e relações fundamentadas em um novo paradigma de geração de valor. Isso envolve uma ênfase na durabilidade, modularidade, remanufatura e reutilização, desenvolvimento orientado a serviços, compartilhamento de recursos e utilização de fontes de materiais renováveis.

Nos últimos artigos do nosso Blog, por exemplo, temos falado sobre os temas de coleta seletiva, logística reversa e reciclagem, modelos sustentáveis de extrema importância no combate dos impactos socioambientais que devastam nosso planeta. Contudo, apesar de sua relevância, é crucial reconhecer que esses modelos, quando considerados individualmente, não são suficientes para resolver de forma integral a crise ambiental e de recursos que estamos confrontando.

É importante destacar, que existem situações e regiões em que os modelos de coleta seletiva, logística reversa, reciclagem, entre outros que integram a economia circular, podem não representar as soluções mais eficazes em termos de custo-benefício. Isso ocorre frequentemente devido às questões tributárias, a infraestrutura de logística, tecnologias, aos altos requisitos de energia associados aos seus processos, bem como à possibilidade de desvalorização ou redução da qualidade dos materiais, resultando no fenômeno conhecido como downcycling, ou seja, a demanda por matéria-prima virgem não é solucionada e continua.

Neste sentido, como a perspectiva de uma economia circular não está apenas no design para melhor aproveitamento no fim da vida de um produto, é de extrema importância que cada caso seja muito bem desenvolvido, avalizando toda uma cadeia de valores, como redução do consumo de água, energia, emissão de gases de efeito estufa, entre outros efeitos prejudiciais ao meio ambiente.

Condições facilitadoras para economia circular

A Economia Circular apresenta diversas oportunidades, como citamos anteriormente. Entretanto, para que a Economia Circular possa atingir uma escala significativa e concretizar todo o seu potencial, é essencial criar as condições facilitadoras necessárias para essa transição. Tais condições incluem um sistema melhor qualidade de educação, políticas públicas específicas, infraestrutura voltada para a circularidade e a aplicação de tecnologias inovadoras.

Aqui, destacamos quatro fatores-chave que desempenham um papel direto no impulso da Economia Circular:

Educação: Além de fornecer conhecimentos técnicos e habilidades de gestão, a educação desempenha um papel vital na mudança de perspectiva, atitudes e valores. Por meio de uma aprendizagem ativa e colaborativa, ela facilita o desenvolvimento das novas competências essenciais para a construção de um modelo mental alinhado à lógica da Economia Circular.

Políticas Públicas: No âmbito macroeconômico, as políticas públicas devem incentivar os ciclos reversos e a inovação em design e modelos de negócios circulares. Opções podem incluir a redução da tributação sobre recursos secundários, fontes renováveis, insumos puros e mão de obra.

Infraestrutura: O desenvolvimento de elementos estruturais essenciais para viabilizar as atividades da economia circular, como sistemas de logística reversa e saneamento básico.

Tecnologias e Inovação: A tecnologia capacita inovações disruptivas, abrangendo desde modelos de negócios até a gestão da cadeia de valor e operações, como a reciclagem. Em modelos como virtualização e compartilhamento, a tecnologia é crucial para viabilizar a entrega e o compartilhamento de valor, além de fornecer acesso a informações cruciais, como a rastreabilidade de materiais em múltiplos ciclos de uso.

REFERENCIAS

  • Artemisia e Gerdau, 2022. Tese de Impacto em Reciclagem.
  • Bag, S., Gupta, S., & Kumar, S. (2021). Industry 4.0 adoption and 10R advance manufacturing capabilities for sustainable development
  • Braungart e McDonough, 2002. Cradle to cradle: remaking the way we make things.
  • Economia Circular, 2018. Economia circular: oportunidades e desafios para a indústria brasileira.
  • Ellen MacArthur Foundation, 2014. Towards the circular economy: economic and business rationale for an accelerated transition
  • Instituto Akatu, 2021, e-book Resíduos: primeiros passos.