Entenda o significado da sigla ESG, a importância de uma visão holística e não apenas atender critérios específicos das letras que compõem essa abordagem
Nos últimos tempos, o termo ESG tem ganhado grande visibilidade, graças a uma preocupação crescente do mercado financeiro sobre a sustentabilidade. Investidores, reguladores, fundos de investimento estão examinando com microscópio questões ambientais, sociais e de governança, relatórios, planos de descarbonização corporativos, entre outros fatores relevantes para decisões de investimentos.
Isso tem colocado forte pressão sobre o setor corporativo, tirado o sono das organizações, que estão buscando entender o que é ESG, se adaptar e estar em conformidade com as exigências de cenários nunca pensados, negligenciados, esquecidos.
Neste artigo, falamos um pouco de como surgiu o termo ESG, conceitos, tendencias do mercado, a importância de uma visão holística da abordagem, e não apenas se concentrar em atender critérios específicos das três letras que compõem o ESG. Confira a seguir:
O termo ESG
Para conceituar, o termo ESG, Environmental (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança), surgiu em 2004 em um relatório publicado pelo Pacto Global das Nações Unidas (ONU) em colaboração com o Banco Mundial, intitulado “Who Cares Wins”.
Surgiu a partir de uma provocação feita pelo secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, gestores, diretores, investidores, analistas, corretores, incentivando todas as partes interessadas a adotarem fatores sociais, ambientais e de governança (ESG) no mercado de capitais a longo prazo.
Na mesma época, a UNEP-FI lançou o relatório Freshfield, que destacava a relevância da incorporação de fatores ESG na avaliação financeira. Em 2006, surgiu o PRI (Princípios do Investimento Responsável), que hoje conta com mais de 3 mil signatários, gerenciando ativos que excedem USD 100 trilhões. Em 2019, o PRI registrou um crescimento de cerca de 20%.
Sem ESG, sem investimentos
Os riscos ambientais, sociais e de governança (ESG) já estão impactando a qualidade do crédito corporativo e soberano em 2023, conforme destacado em um recente relatório da Moody’s, empresa de análise de risco. Um dos fatores que contribuem para essa tendência é a crescente ênfase na análise dos planos de descarbonização das empresas. Além das divulgações obrigatórias, como as que em breve entrarão em vigor nos mercados de capitais dos Estados Unidos, há uma crescente demanda por medidas concretas para implementar a transição para um futuro com emissões net zero.
A ausência de metas claras para reduzir as emissões e realinhar as operações com uma economia de baixo carbono pode resultar na perda de confiança dos investidores e no aumento dos custos de capital das empresas. A Moody’s adverte que os riscos ambientais, sociais e de governança começarão a se traduzir em consequências financeiras reais, à medida que esse movimento ganha força. Conforme as instituições financeiras se comprometem com metas de emissões net zero, apoiadas por dados e relatórios aprimorados, essa tendência deve acelerar ainda mais.
A pressão por práticas de baixo carbono está se estendendo cada vez mais a toda cadeia de suprimentos das empresas, incluindo a possibilidade de um “imposto de carbono” proposto pela União Europeia para algumas importações. Por outro lado, investidores e fundos de investimento também estão enfrentando pressão regulatória.
Segundo uma notícia publicada pelo Capital Reset, a Securities and Exchange Commission (SEC), comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, recentemente determinou que os fundos com a sigla “ESG” em seus nomes devem ter pelo menos 80% de seus portfólios alinhados com princípios ESG. Essa medida, aprovada em setembro, visa garantir que o nome dos fundos reflita com precisão seus investimentos, como destacado pelo presidente da SEC, Gary Gensler.
Essa proposta, apresentada em maio do ano anterior, ampliou o escopo das regulamentações que orientam os nomes dos fundos nos EUA, que estavam em vigor há cerca de duas décadas. Antes, a regra exigia que os gestores seguissem a política dos 80% em sua carteira como um todo, mas agora passou a ser aplicada individualmente a cada fundo.
Por exemplo, um fundo com a designação “mobilidade verde” em seu nome deve investir pelo menos 80% de seus recursos em ativos de empresas cujos negócios sejam relacionados a alternativas de transporte com baixas emissões de carbono.
Em outro relatório, publicado pela PwC, estima-se que até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estejam alocados em fundos que levam em consideração critérios ESG, totalizando US$ 8,9 trilhões em comparação com 15,1% no final do ano passado. Além disso, 77% dos investidores institucionais pesquisados pela PwC afirmaram que planejam deixar de adquirir produtos que não atendam aos critérios ESG nos próximos dois anos, fazendo que as corporações corram para se adaptar e estar em conformidade as exigências do cenário.
“ESG” para além do marketing
No “E” (Ambiental) de ESG, qual impacto a empresa tem no meio ambiente? Qual sua pegada de carbono? Tem logística reversa, promove mitigação de produtos químicos tóxicos, consumo de energia, água e matérias-primas virgens?
No “S” (Social), como a empresa melhora seu impacto social nas comunidades? Tem mulheres, mães, pretos, pardos, indígenas, LGBTQ+ no quadro de funcionários? Escutam e atendem as necessidades dessas pessoas? Promove um mapeamento participativo com as comunidades locais, estabelecendo parcerias com ONGs e organizações que conhecem as necessidades do território onde estão estabelecidas?
No “G” (Governança), o conselho e a gestão da empresa estão impulsionando mudanças positivas? A governança inclui tudo, desde questões relacionadas à remuneração dos executivos até a diversidade na liderança, bem como a forma como essa liderança responde e interage com os acionistas?
Esses são apenas alguns exemplos, de como essas três letras prometem transformar o mundo dos negócios ampliando o impacto positivo em cenários nunca pensados, negligenciados, esquecidos. Além disso, essas três letras servem para medir como e se, as empresas possuem práticas sociais responsáveis, ambientalmente sustentáveis e administradas de forma ética e correta. Em troca, conseguem obter acesso a fundos de investimento, menor volatilidade e lucro.
É um movimento rentável, importante e necessário, e muitas empresas viram esse cenário como uma grande oportunidade de atrair financiamentos, consumidores e investidores preocupados com questões sociais e ambientais, construir uma reputação e branding de empresa social e ambientalmente responsável, bem como aumentar seu valor no mercado. No entanto, há empresas ainda focadas nas barreiras, na dificuldade de adaptações necessárias e no custo de readequação, afirmando que isso tira o foco dos negócios. Mesmo nas empresas que aparentemente se engajam com o tema, o que vemos é muito discurso e pouca prática.
Então se inicia uma corrida desesperada para atender aos critérios ESG, para comunicar suas ações, e informar ao mercado que são “amigas” do meio ambiente e da sociedade, quando muitas ainda utilizam práticas e métodos prejudiciais. Surgem então os conceitos como Greenwashing, Socialwashing, Pinkwashing e Bluewashing.
São termos que definem ações enganosas de marketing de empresas para comunicar suas ações “amigas” do meio ambiente, da sociedade, de movimentos, quando na verdade não fazem, ou pouco fazem.
O termo Greenwashing, por exemplo, refere-se as ações enganosas desenvolvidas para melhorar a sua imagem relacionada ao meio ambiente, promovendo-se como ecologicamente corretas quando realmente apenas minimizam seu impacto ambiental.
O termo Socialwashing refere-se as ações enganosas desenvolvidas para melhorar a sua imagem relacionada a sociedade, promovendo-se como socialmente conscientes.
O termo Pinkwashing refere-se as ações enganosas desenvolvidas para melhorar a sua imagem relacionada ao público LGBTQ+. Tornou-se bastante comum ver empresas fazendo fila para patrocinar eventos de orgulho LGBTQ+ e, ao mesmo tempo, não fazer nada para facilitar a vida de seus funcionários LGBTQ+ no trabalho. Estes funcionários LGBTQ+ enfrentam frequentemente discriminação e assédio no trabalho.
E o termo Bluewashing refere-se às ações enganosas desenvolvidas pelas empresas para melhorar a sua imagem relacionada ao crescimento sustentável e cidadania no mundo. Essas empresas geralmente se aderem ao pacto global da ONU, e usam a sua associação com as Nações Unidas para melhorar a sua imagem e desviar a atenção das suas práticas comerciais controversas.
ESG, é fazer do jeito certo
O que hoje é chamado de ESG, já teve vários outros nomes dentro das corporações, como responsabilidade social corporativa, meio ambiente, sustentabilidade, entre outros. Isto é, ações relacionadas ao meio ambiente, ao social e a governança corporativa têm sido debatidas a anos dentro de algumas corporações. No entanto, quando reduzimos o assunto a uma sigla (ESG), como vem sendo feito, temos um problema sério, faz com que ele perca importância e dá ampla margem à polarização.
Muitas empresas estão se concentrando em atender critérios específicos sem adotar uma visão holística das três letras que compõem o ESG (Ambiental, Social e Governança), e as múltiplas implicações a longo prazo que essas áreas têm nos negócios, tais como produtividade, inovação, alocação de capital, e muito mais.
O ESG não é apenas um conjunto de regras a seguir; é, na verdade, uma abordagem holística à gestão empresarial. É fazer as coisas do jeito certo, é nos concentrar mais no que precisamos fazer para construir um futuro melhor, pensando em tudo e todos a nossa volta.
Imagine, por exemplo, a abertura de uma loja. Nesse cenário, todos os princípios de sustentabilidade devem ser considerados na análise: desde a certificação dos fornecedores até a eficiência energética. Ao lançar um novo produto, é fundamental considerar desde o início como a embalagem será descartada. Essa abordagem transcende iniciativas isoladas. Trata-se de fazer as coisas do jeito certo!
É importante ressaltar que a falta de ação terá consequências no futuro, afetando não apenas a empresa, mas também o meio ambiente e a sociedade em geral. Um exemplo claro disso é a questão da diversidade. Em vez de encarar a diversidade como uma mera obrigação de cumprir cotas, devemos entender a importância de promovê-la de maneira genuína e significativa.
Referências
- Capital Reset. Para esse professor, é hora de acabar com o ESG (Clique aqui)
- Capital Reset. Grynbaum, do Boticário: ESG é fazer as coisas ‘do jeito certo’ (Clique aqui)
- Capital Reset. SEC determina que fundos ESG precisarão ter 80% do portfólio alinhado (Clique aqui)
- Estadão Expresso. Perifa Sustentável. As empresas estão abertas para implementar “ESG” na favela para além do marketing? (Clique aqui)
- Pacto Global. ESG (Clique aqui)